sábado, 20 de outubro de 2012


Vi em uma mensagem certa vez um trecho do consagrado Rubem Alves que dizia:

“Quero ensinar as crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Os seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento...
“...a capacidade de se assombrarem diante do banal.”


“Para as crianças, tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos não vêem.”




Com Rubem Alves início meu relato , pois é através de pensadores e amantes da arte de educar que sempre ouvi dizer que até mesmo um pequeno inseto que entra em nossas salas de aula pode se transformar em uma rica e estimulante situação didática. O que não podia imaginar é que isso aconteceria na minha prática pedagógica e daria início a este projeto, que surgiu de uma forma inesperada quando numa tarde, ao voltarmos da biblioteca, meus alunos e eu, encontramos na calçada uma pequena e amarela lagarta que realizava tranquilamente seu trajeto.


Esta foi a primeira lagartinha encontrada na calçada perto da Biblioteca.


Movida pela curiosidade de fascinante criaturinha ,levei-a para sala de aula e observamos toda sua anatomia, os alunos desenharam-na, a partir de simples observação, para que depois pudéssemos devolvê-la ao seu habitat natural. Qual  foi nossa surpresa ao chegarmos na árvore de onde supostamente  havia saído ,nos depararmos com um rico laboratório ao céu aberto!



Em uma pequena árvore de flores amarelas haviam muitas lagartas, casulos, borboletas amarelas que já borboleteavam por ali, sem contar que encontramos outros pequenos animais como joaninhas, aranhas, mariposas, até uma pequena rã verdinha se encolhida numa das folhas verdes. Rubem Alves retrata de forma oportuna este momento:

"A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose..." 
                             Rubem Alves



Começou então a grande aventura: decidimos criar um borboletário e conversamos sobre o que precisaria para mantermos viva a nossa mais nova amiguinha. Surgiu a ideia de pesquisar na internet como montá-lo (não encontrei este termo nas pesquisas, mas combinamos que o nosso assim se chamaria).



Montamos um mapa onde a cada dia anotávamos o que foi observado, buscamos mais algumas lagartas e também trouxemos uns casulos no galho para, acompanhar  o nascimento de uma nova borboleta. 




Iniciamos as anotações e durante o processo passamos por uma fase onde uma lagarta furou outro casulo, matando-o . Acompanhamos outra lagarta que saiu do casulo e foi até o chão da sala , sendo pisada involuntariamente, afetando em sua anatomia, dificultando sua transformação, morrendo dias depois .



 Diante da comoção dos alunos, houve a necessidade de  abordar esse assunto,   onde cada um refletiu sobre a situação e expôs sua opinião. Registramos o fato no mapa e a devolvemos  embaixo da árvore de onde tiramos.Acompanhamos também o exato momento em que outra lagarta se fixou no galho, aguardando o momento de se tornar um novo casulo. Este processo durou aproximadamente  duas horas.  Esse momento proporcionou uma grande euforia na turma, que observou atentamente cada movimento dessa transformação.




Acompanhamos  na árvore do pátio duas borboletas  que copulavam,( os vídeos deste momento, bem como do projeto todo serão postados posteriormente) e dias depois constatamos a existência de muitos ovos nas folhas, dando  início a um  novo ciclo na vida desses seres maravilhosos e mágicos que povoaram nossas mentes durante aproximadamente mais de dois meses.



Pude vivenciar com o presente trabalho o que Paulo Freire afirmava brilhantemente :




“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. 



De uma maneira interdisciplinar, foram realizadas diversas atividades como: a pesquisa de textos informativos e produção de textos  literários, confecção de livrinho e fantoches, dramatizações de histórias, realização de dobraduras, situações matemáticas.
 Sendo a avaliação parte da construção do conhecimento, essa ocorreu de maneira contínua e ao final, através  de representação artística de um desenho em cartolina para exposição diante da turma. Na linguagem escrita foi traçado um paralelo entre o que sabiam antes e o conhecimento construído sobre o assunto.




Para finalizar gostaria de acrescentar, que muito além dos conteúdos, tive a possibilidade de acompanhar o interesse dos alunos, sua  emoção ao ver pequenos seres vivos, a demonstração dos sentimentos diante da morte, da alegria da descoberta ao encontrar cada nova lagarta, o novo casulo ou então outros insetos e poder expor o que estavam aprendendo. A experiência foi enriquecida pelo companheirismo entre os alunos e do entrosamento entre eles e a professora, o apoio incondicional da direção da escola, bem como o interesse pelos colegas de Instituição. Com essa experiência aprendemos muito , e como saldo ficou uma lembrança de uma fase maravilhosa de descobertas e compartilhamento.


Professora : Ana Maria Camillo e os alunos do 3 ano “D”. Turno vespertino.

 Deixo uma ultima mensagem como despedida do grande  Rubem Alves , educador que tenho grande admiração!  


"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."
Rubem Alves



Ana Maria Camillo... Educadora acima de tudo...